
Os Maiores Erros de Warren Buffett
Quando o Maior do Mundo Assume Que Errou
Será que mesmo os maiores gênios financeiros cometem erros? A resposta é um retumbante sim, e Warren Buffett, o lendário Oráculo de Omaha, não é exceção. Poucos líderes no planeta têm a coragem de escrever, para milhões de acionistas e investidores, frases como:
“Este foi um erro meu.” “Se tivesse pensado melhor, não teria feito esta aquisição.”
Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos da história, não apenas admite erros — ele os disseca, expõe ao público e os transforma em lições de investimento e gestão. Essa transparência, rara no mundo corporativo, é uma das chaves para sua credibilidade e o respeito que angariou ao longo das décadas.
Neste episódio da Saga das Cartas de Warren Buffett, mergulhamos nos anos 2006 a 2015, com uma retrospectiva até 2023 (e projeções para o futuro), para entender os principais erros que Buffett assumiu publicamente, como ele se autocorrigiu e o que cada um de nós pode aprender. Mais do que uma aula de finanças, é uma aula de caráter, humildade intelectual e gestão de reputação, essencial para qualquer pessoa que busca sucesso duradouro, seja nos investimentos ou na vida
O Contexto – O Mundo em que Buffett Errou

2006–2007: O topo antes da tempestade
O cenário era de otimismo desenfreado. O crédito fluía livremente, empresas se expandiam a taxas vertiginosas e o mercado imobiliário dos EUA parecia invencível, impulsionado por uma bolha que poucos ousavam questionar. Buffett, já então bilionário e uma referência global em investimentos, também fez movimentos que mais tarde chamaria de equivocados, influenciado pelo clima de euforia.
“We need to focus on avoiding mistakes which can spoil our wealth. If we focus on avoiding mistakes, then half of the battle we’ve won.”
(Carta de 2007, Berkshire Hathaway)
2008–2009: Crise Global
A falência do Lehman Brothers em setembro de 2008 e a subsequente derrocada do sistema bancário global pegaram até os mais experientes de surpresa, mergulhando o mundo em uma das piores crises financeiras da história. Em meio ao caos, Buffett injetou capital em empresas icônicas como Goldman Sachs e General Electric, demonstrando sua confiança no sistema americano. No entanto, ele também hesitou em algumas decisões, como sua postura inicial em títulos do Tesouro, um movimento que ele posteriormente lamentaria por não ter sido mais agressivo.
“During 2008 I did some dumb things in investments. I made at least one major mistake of commission and several lesser ones that also hurt.”
(Carta de 2008, Berkshire Hathaway)
“Mistakes are part of the game, but the costliest ones are those you fail to recognize quickly.”
(Carta de 2009, Berkshire Hathaway)
2010–2015: Reconstrução e novas armadilhas
Com o mundo se recuperando lentamente da crise, Buffett fez aquisições ousadas, aproveitando as oportunidades que surgiam em um mercado ainda fragilizado. Contudo, ele também assumiu que pagou caro demais em alguns casos, demonstrando que mesmo o mais disciplinado dos investidores pode ser seduzido por valuations elevados em momentos de otimismo renovado.
“It was, nevertheless, a terrible mistake on my part to issue 272,200 shares of Berkshire in buying General Re… My error caused Berkshire shareholders to give far more than they received.”
(Carta de 2015, relembrando a aquisição de 1998)
“We paid too much for some businesses. This is my fault, not the managers’.”
(Carta de 2011, Berkshire Hathaway)
2023: Olhando pelo retrovisor
Na carta de 2023 aos acionistas da Berkshire Hathaway, Buffett revisita sua trajetória, relembrando acertos e, principalmente, erros — reafirmando que o segredo não é evitar falhar, mas falhar de forma não fatal. Ele constantemente enfatiza a importância de aprender com os próprios equívocos e os dos outros, transformando cada deslize em uma oportunidade de crescimento.
“During the 2019–23 period, I have used the words ‘mistake’ or ‘error’ 16 times in my letters to you. Many other huge companies have never used either word over that span.”
(Carta de 2023, Berkshire Hathaway)
“Sometimes I’ve made mistakes in assessing the future economics of a business… At other times, I’ve made mistakes when assessing the abilities or fidelity of the managers Berkshire is hiring.”
(Carta de 2023, Berkshire Hathaway)
Casos Icônicos de Erros de Warren Buffett
Cada erro de Buffett é um estudo de caso valioso, dissecado em suas cartas anuais. Aqui estão alguns dos mais emblemáticos, que oferecem lições cruciais para qualquer investidor:
Dexter Shoes (Anos 90, lição eterna)
Em 1993, Buffett comprou a Dexter Shoes, uma fabricante de calçados, pagando com ações da Berkshire Hathaway. O negócio fracassou espetacularmente, e o que é pior, as ações da Berkshire que ele usou para pagar valeriam hoje dezenas de bilhões de dólares. Este foi um erro que Buffett classificou como um de seus maiores, não apenas pela perda do investimento em si, mas pelo custo de oportunidade colossal.
Lição: Não subestime a importância de avaliar a durabilidade da vantagem competitiva (o “fosso” econômico) de uma empresa. Setores sem barreiras de entrada fortes ou com produtos facilmente comoditizáveis são armadilhas, mesmo para os melhores.
ConocoPhillips (2008)
Em 2008, Buffett comprou ações da gigante petrolífera ConocoPhillips quando o preço do petróleo estava no auge histórico. Pouco tempo depois, os preços despencaram, e ele reconheceu o erro de timing, admitindo que agiu impulsivamente e sem a devida análise de preço.
Lição: Não confundir convicção com pressa. Mesmo tendo uma visão de longo prazo sobre um setor, o preço de entrada é crucial. A paciência é uma virtude no investimento, e esperar pelo momento certo pode evitar perdas significativas.
USAir e as aéreas
Buffett já havia perdido dinheiro com a USAir nos anos 90, classificando o investimento como um “buraco negro”. Décadas depois, em um movimento surpreendente, ele voltou a investir pesadamente em companhias aéreas (American, Delta, Southwest e United) entre 2016 e 2017. No entanto, com a chegada da pandemia de COVID-19 em 2020, ele vendeu todas as suas posições às pressas, admitindo que o setor era inerentemente problemático.
Lição: Reconhecer quando um setor estruturalmente fraco não muda sua natureza, mesmo diante de novas tecnologias ou conjunturas. Alguns negócios, por sua própria estrutura, são inerentemente difíceis de gerar retornos consistentes, independentemente da gestão.
Lubrizol (2011)
Embora a aquisição da Lubrizol tenha sido um sucesso financeiro, Buffett admitiu que houve falha no processo de comunicação durante a negociação, gerando ruído e desconfiança entre as partes envolvidas. Ele enfatizou que a forma como um negócio é conduzido é tão importante quanto o resultado final.
Lição: Integridade e clareza na comunicação importam tanto quanto o preço pago ou o valor intrínseco do ativo. A confiança é um pilar fundamental em qualquer transação, e a falta dela pode comprometer até mesmo os melhores negócios.
Filosofia de Autocorreção de Buffett: A Humildade como Vantagem Competitiva
Buffett não vê erros como fracassos definitivos, mas como aulas caras, porém inestimáveis. Ele aplica três princípios fundamentais em sua filosofia de autocorreção:
1.Admitir rápido: Reconhecer o erro sem rodeios ou desculpas, o mais rápido possível.
2.Corrigir o que for possível: Tomar ações decisivas para mitigar o dano e reverter a situação, se viável.
3.Evitar repetir: Aprender profundamente com o erro para não cometê-lo novamente no futuro.
Charlie Munger, seu parceiro de décadas na Berkshire Hathaway, reforça constantemente que a humildade intelectual é uma das maiores vantagens competitivas de um investidor. A capacidade de mudar de ideia quando os fatos mudam, sem apego ao ego, é o que diferencia os grandes dos meros apostadores.
Integridade, Cultura e Reputação: Os Pilares de Buffett
Buffett repete incansavelmente que busca sócios e gestores com três qualidades essenciais:
• Integridade
• Inteligência
• Energia
E ele avisa, com sua sabedoria característica:
“Se não tiver a primeira, as outras duas vão te matar.”
Ele já deixou de fechar negócios lucrativos porque não confiava nos gestores ou na cultura da empresa. A lógica é simples: um erro de julgamento pode ser corrigido com novas informações ou ajustes; um erro de caráter, no entanto, destrói reputações e compromete a base de qualquer empreendimento sólido. Para Buffett, a reputação é o ativo mais valioso, construído ao longo de uma vida e que pode ser destruído em um instante.
Lições Práticas para Investidores e Empreendedores
Os erros de Warren Buffett nos oferecem um manual prático para aprimorar nossas próprias decisões. Aqui estão as principais lições:
• Documente decisões: Antes de investir, escreva por que está fazendo o investimento, quais são suas premissas e quais riscos enxerga. Isso ajuda a clarear o pensamento e a revisar suas decisões posteriormente.
• Tenha margem de segurança: Até o melhor investidor do mundo erra. Sempre compre ativos por um preço significativamente abaixo de seu valor intrínseco, criando uma “margem de segurança” para absorver erros de julgamento ou eventos inesperados.
• Priorize integridade: Negócios com pessoas de má índole tendem a dar errado, independentemente do quão atraente a oportunidade possa parecer. Invista em empresas e parcerias onde a ética e a honestidade são valores inegociáveis.
• Aceite perdas cedo: A teimosia é um dos maiores inimigos do investidor. Se um investimento não está funcionando e as premissas iniciais se mostraram falsas, admita o erro e saia. Manter-se em uma posição perdedora por orgulho é mais caro do que admitir o erro.
Conclusão – O Legado dos Erros: Uma Jornada de Aprendizado Contínuo
Warren Buffett construiu sua fortuna não por nunca errar, mas por limitar o tamanho dos erros e ampliar os acertos. Sua genialidade reside na capacidade de aprender, adaptar-se e, acima de tudo, manter uma humildade inabalável diante dos próprios equívocos.
Ele nos ensina que admitir falhas publicamente não enfraquece a liderança — pelo contrário, fortalece a confiança e a credibilidade. Em um mundo onde a perfeição é frequentemente idealizada, Buffett nos lembra que a jornada para o sucesso é pavimentada por erros, e que a verdadeira sabedoria reside em como reagimos a eles.
No próximo episódio da “Saga das Cartas de Warren Buffett”, vamos ver como Buffett escolhe negócios, um contraponto natural e essencial a este mergulho profundo em seus erros. Fique ligado para mais insights do Oráculo de Omaha!
Qual erro de Warren Buffett mais te surpreendeu ou qual lição você considera mais valiosa? Compartilhe sua opinião nos comentários abaixo e vamos continuar essa discussão!
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