
Origens e Infância no Brasil
Leda Maria Passos Faria Braga nasceu em 1967 no Rio de Janeiro. Desde pequena, demonstrava curiosidade acima da média e talento natural para resolver problemas lógicos. Enquanto colegas se encantavam por brincadeiras comuns, Leda preferia desafios matemáticos, jogos de raciocínio e atividades que estimulavam o pensamento analítico.
Seu interesse precoce por números refletia-se no desempenho escolar. Professores relatavam sua habilidade incomum para lidar com abstrações complexas, algo que a encaminhou naturalmente para a ciência e a engenharia.
No Brasil dos anos 1970, o ambiente ainda era desafiador para mulheres que desejavam seguir carreira em áreas de exatas. Ainda assim, com apoio familiar e determinação própria, Leda superou barreiras culturais e acadêmicas, consolidando-se como uma aluna de destaque.
A Jornada Acadêmica na Europa
A busca por excelência levou Leda ao Imperial College London, uma das instituições mais prestigiadas do mundo em ciência e engenharia. Lá, concluiu seu doutorado em Engenharia de Estruturas, área que exige precisão matemática e profundo conhecimento de modelagem computacional.
Mais do que obter um título acadêmico, Leda mergulhou em um ambiente multicultural e interdisciplinar. Durante os mais de três anos em que lecionou no Imperial College, aprendeu a lidar com metodologias complexas e a transmitir conhecimento para estudantes internacionais.
Esse período moldou sua capacidade de comunicação clara e visão estratégica, qualidades que mais tarde seriam essenciais na liderança de grandes equipes financeiras.
Entrada em Wall Street e o Mundo dos Derivativos
Após sua experiência como professora, Braga ingressou no JPMorgan, um dos maiores bancos de investimento do planeta. Sua função inicial estava diretamente ligada à pesquisa quantitativa em derivativos exóticos de taxa de juros, moedas e ações.
Esse trabalho exigia habilidade para desenvolver modelos matemáticos capazes de precificar instrumentos financeiros extremamente complexos.
Nos anos 1990, os derivativos eram uma fronteira avançada das finanças, e poucos profissionais tinham o preparo para lidar com tais desafios. Leda rapidamente se destacou, construindo reputação como uma das mais promissoras quants de sua geração.
Além da competência técnica, chamou atenção sua capacidade de permanecer calma em momentos de alta pressão. Isso consolidou sua posição como líder natural em equipes dominadas por homens e altamente competitivas.
O Convite de Michael Platt e o Início da BlueCrest
Em 2001, Michael Platt, então cofundador da BlueCrest Capital Management, identificou em Leda a peça-chave para estruturar um braço sistemático de investimentos.
Braga aceitou o desafio e mudou-se para Genebra, onde ajudou a expandir a gestora, que logo se tornaria uma das maiores da Europa.
Em 2004, nasceu o BlueTrend, fundo quantitativo focado em estratégias de trend-following. Sua abordagem consistia em identificar e explorar tendências de preços em diversas classes de ativos, utilizando algoritmos para orientar decisões sem interferência emocional.
A Crise de 2008: A Prova de Fogo
A crise financeira global de 2008 foi um divisor de águas. Enquanto gigantes de Wall Street quebravam ou precisavam de resgates governamentais, o BlueTrend entregou retorno de 43% no ano.
Essa performance impressionante transformou Leda Braga em referência mundial.
Enquanto muitos gestores sucumbiam à volatilidade, seus modelos sistemáticos mantiveram a disciplina e capturaram tendências geradas pelo pânico e pela liquidez abundante.
Esse feito projetou Braga para o centro das atenções: a mídia a apelidou de “Rainha dos Quants”, título que carrega até hoje.
Ao contrário de muitos gestores, que operavam baseados em intuição e experiência pessoal, Braga provou que algoritmos poderiam superar o fator humano em momentos críticos.
Nascimento da Systematica Investments
Em janeiro de 2015, Leda fundou a Systematica Investments, um spin‑off da BlueCrest, levando consigo o BlueTrend e parte da equipe. O novo projeto nasceu com mais de US$ 8 bilhões sob gestão e escritórios em Genebra, Londres e Nova York.
A Systematica consolidou-se como uma das principais casas de investimento sistemático do mundo, sempre sob liderança firme de Braga.
Sua filosofia era clara:
- Disciplina algorítmica acima da emoção humana.
- Inovação constante com uso de machine learning e big data.
- Gestão de risco rigorosa, priorizando preservação de capital em ambientes voláteis.
- Cultura de meritocracia, atraindo talentos de ciência de dados e programação.
Diversificação de Estratégias
Com o tempo, a Systematica expandiu além do BlueTrend. Lançou produtos como:
- SAM (Systematica Alternative Markets) – voltado para mercados emergentes.
- SARP (Systematica Alternative Risk Premia) – que explora prêmios de risco alternativos.
- Systematica China Markets – especializado em ativos chineses.
- Liquid Multi Strategy – uma cesta diversificada de abordagens sistemáticas.
Essas iniciativas consolidaram a AUM em cerca de US$ 17 bilhões em 2025, mesmo após desafios pontuais, como a queda de 19% registrada pelo BlueTrend em 2025 devido a choques geopolíticos.
Filosofia e Liderança
Braga costuma afirmar que gestão quantitativa é ciência aplicada às finanças.
Para ela, a vantagem competitiva não está em prever o futuro, mas em gerenciar riscos de forma sistemática e extrair pequenas vantagens repetidamente.
Sua liderança também se destaca pelo incentivo à diversidade de gênero e nacionalidade, tornando a Systematica uma empresa globalmente inclusiva.
Reconhecimento e Impacto Global
Leda Braga figura frequentemente em rankings das mulheres mais poderosas do setor financeiro.
Já foi destaque em veículos como Financial Times, Bloomberg, Business Insider e Infomoney.
Além disso, participa de conselhos de prestígio como:
- NY Fed Investment Advisory Committee
- CERN Pension Fund Advisory Board
- Systemic Risk Centre da LSE
- Standards Board for Alternative Investments (SBAI)
Legado e Futuro
A trajetória de Leda Braga transcende sua carreira individual.
Ela representa a ascensão da ciência de dados no mercado financeiro e o avanço da liderança feminina em um ambiente historicamente masculino.
Mesmo enfrentando desafios como a crescente competição de outras gestoras quantitativas e a volatilidade imprevisível dos mercados, Braga permanece referência global.
Sua visão de futuro é clara:
- Algoritmos e IA serão cada vez mais centrais na gestão de recursos.
- A diversificação global e o uso de dados alternativos serão diferenciais decisivos.
- Gestão de risco continuará sendo o coração do sucesso.
Voz ativa nos bastidores: entrevistas e conferências
Entrevista de maio de 2025 (10 anos da Systematica)
Em entrevista concedida a Alternative Fund Insight para marcar os 10 anos da Systematica, Leda Braga enfatizou que “prefere trabalhar com datasets do que com holofotes” — uma forma de sublinhar sua abordagem discreta e analítica enquanto líder de uma das quant funds mais relevantes do mundo. Ela refletiu sobre a evolução da indústria, comentando que os desafios atuais demandam “flexibilidade nos modelos e adaptabilidade à nova onda de regulação e inteligência artificial”.
Ficando nos techs: AI e mercados na SSC Cambridge Conference (abril de 2024)
Na conferência SSC Deliver Europe, Leda dividiu o palco com Bill Stone para discutir o papel da inteligência artificial no mercado financeiro. Ela ressaltou que, embora IA seja promissora, muitos algoritmos ainda enfrentam dados ruidosos e pouco estruturados — e a decisão humana ainda é essencial para calibrar os modelos matemáticos em cenários extremos Hedgeweek.
Talks at Goldman Sachs: cultura e fundação da Systematica
Em uma edição recente da série Talks at GS, Leda Braga compartilhou insights sobre os princípios que nortearam a fundação e a cultura interna da Systematica. Ela enfatizou a importância de unir ciência de dados, governança forte e meritocracia em ambientes sistêmicos — “para construir uma firma que durasse além de ciclos de mercado”.
Podcast e rankings da InfoMoney e Expert XP (Brasil)
No podcast “Outliers” do InfoMoney, Leda detalhou como a estrutura de decisão funciona na Systematica: pesquisas e modelos numéricos alimentam algoritmos que executam trades — com intervenções humanas apenas para ajustes de risco não previstos. “Não temos opinião direta nos mercados; são os algoritmos que fazem o trabalho,” afirmou InfoMoney.
Ainda em palestra na Expert XP (2020), revelou que a Systematica costuma operar entre 100 e 300 ativos simultaneamente por fundo, mostrando a escala operacional típica da gestão quantitativa
Conclusão
De uma jovem carioca apaixonada por números à executiva que comanda bilhões em ativos, Leda Braga transformou-se em sinônimo de disciplina algorítmica e liderança visionária. Sua história não é apenas a de uma gestora de fundos — é a narrativa de como ciência, resiliência e inovação podem transformar o mercado financeiro global.
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